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*Por Alcebíades Araújo

De tempos em tempos, um Cisne Negro surge e afeta profundamente o mundo. Se você ainda não conhece essa ideia, sem dúvida este é um bom momento para ler a obra do escritor Nicholas Nassim Taleb, autor de livros como “A Lógica do Cisne Negro” e “Antifrágil”. Segundo ele, Cisnes Negros são eventos raros que provocam grandes impactos e que são especialmente difíceis de se prever, assim como a pandemia que estamos vivendo.

Para as empresas, eventos como os que estamos atravessando são especialmente marcantes, pois expõem situações jamais imaginadas por qualquer previsão, ainda que pessimista. Estimativas do mercado indicam que mais de um terço das pequenas e médias companhias do Brasil poderão fechar as portas por conta dos efeitos da crise da COVID-19.   
 
Mas se não podemos prever um Cisne Negro, como devemos agir para garantir as melhores condições caso uma crise aconteça? Em primeiro lugar, é preciso entender que ninguém está imune a esses desafios. As últimas décadas foram ricas em mostrar que até segmentos aparentemente sólidos podem se dissolver com facilidade, de acordo com as mudanças dos ventos – por exemplo, a Bolha da Internet, a crise de 2008 e por aí vai.

Nesse contexto, mais importante do que ficar de olho em um possível evento raro é identificar e remover as fragilidades da empresa. Isso nos remete à outra ideia do Taleb. Trata-se da necessidade de se formar sistemas “antifrágeis”, isto é, dotados de atributos que possibilitam à empresa resistir às intempéries.

Para o escritor, existem estruturas frágeis, incapazes de resistir às turbulências; estruturas robustas, com força o suficiente para se manter em pé nas dificuldades do dia a dia; e as estruturas antifrágeis, que não apenas resistem às tempestades, como também melhoram diante delas.

Isso exige que as empresas sejam mais robustas, trabalhando em torno da realidade. Em outras palavras, é necessário adotar uma cultura organizacional que reconheça a realidade como uma aliada e que estimule a melhoria contínua, buscando indicadores que possam ir além do binômio lucro e receita. É necessário, por exemplo, identificar valores, princípios e condições que apontem para a real consolidação da marca no mercado.

Não é por acaso, que algumas empresas estejam passando melhor pela pandemia de coronavírus. Essas organizações foram capazes de perceber de forma antecipada as vantagens proporcionadas pelas tecnologias digitais tais como o teletrabalho, e compartilhamento de dados “em nuvem”, o e-commerce e o delivery. O que essas marcas nos mostram? Evoluir é uma questão de cultura, uma busca recorrente para alcançar a condição de antifrágil.

Para ter uma cultura que incentive a evolução, os líderes precisam trabalhar próximo das pessoas. O objetivo é encontrar um caminho que permita agilizar e acelerar a inovação e as reações, fortalecendo a resiliência e a solidez da organização como um todo.

Atuar dessa maneira é um desafio para qualquer companhia. Mas é uma demanda ainda mais complexa para as empresas que não nasceram digitais.  A volatilidade e imprevisibilidade do mundo atual exige uma agilidade que muitas vezes as companhias mais tradicionais têm dificuldade para assimilar.

Pesquisas globais indicam que mais de 60% das iniciativas de Transformação Digital estão falhando, sem nem ao menos chegar em estágios mais avançados das implementações. Tais iniciativas fracassam pela dificuldade das organizações de entender por que e como as ações devem ser conduzidas sem romper o coração das operações e sem comprometer a essência dos negócios.

Exatamente por esse motivo defendemos que a diferença entre as marcas de sucesso e as que fracassam diante das dificuldades é, justamente, a capacidade de evoluir e resolver o que precisa ser aprimorado. E por que falamos em evoluir e não somente transformar? Evoluir habilita a transformação de forma natural e contínua. Por outro lado, a transformação por si só pode gerar rupturas e quebras insustentáveis para a manutenção do equilíbrio interno.

A tecnologia e os processos devem ser facilitadores dessa cultura. Em síntese, a TI e a análise de negócios devem caminhar juntas para entender os diversos problemas de uma operação. Toda marca ou linha de produção tem o que melhorar.  

Se as operações precisam melhorar continuamente para alcançar o estágio de antifragilidade, nada melhor do que investir na cultura organizacional orientada à evolução. Evoluir é a capacidade de entender os problemas e possíveis melhorias, e realizar, recorrentemente, as mudanças para garantir o máximo valor a pessoas, marcas e negócios. Precisamos evoluir para transformar. Esse é o caminho para o futuro.

*Alcebíades Araújo, Head de Cultura do Grupo Squadra

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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